“É o próprio cliente que quer parar o carro”, conta manobrista.
“É o próprio cliente que quer parar o carro”, conta manobrista.

No começo da pandemia, os clientes estavam mais preocupados. Cobravam máscara, álcool, proteção. Mas, como somos bem conhecidos aqui — trabalho no Empório Santa Maria pela Padrão Park há onze anos —, os fregueses confiam em nós. Quase 100% dos que vêm usam máscara, assim como nós, e ainda perguntam onde estão os pontos de álcool em gel que foram colocados na loja. Teve uma mulher que, depois de fazer as compras, passou álcool não só na mão, mas quase no corpo todo, do antebraço até o pescoço! Hoje, é como se a pandemia fosse uma coisa mais ‘fixa’, como se se proteger do coronavírus tenha virado um hábito. Quando os clientes chegam, alguns pedem pra estacionar diretamente. Então, a gente só orienta e deixa a vaga pra eles. Antes do corona, parávamos de 90% a 95% dos carros, agora é só uns 60%. E, quando somos nós que manobramos, fazemos a higienização no volante, no câmbio, na maçaneta, no freio… Na hora de entregar, a equipe repete o mesmo procedimento.

Os idosos são os que mais preferem parar direto, assim como grávidas ou alguém que convive com quem tenha algum tipo de doença. O restante deixa o carro com a gente, mas indaga se estamos nos protegendo. No início da pandemia, chegou a ter mais fila de carro porque as pessoas achavam que ia faltar produto, mas, depois, o movimento começou a normalizar e hoje está mais tranquilo. Se não tem carro pra parar, eu e os colegas ficamos conversando. Entro às 14 horas e vou até as 22h30. O turno de verdade era das 15 horas às 23h30, acompanhando o horário do restaurante do empório, que, no momento, só tem delivery. No mercado, estão vindo os mais jovens. Alguns clientes aparecem para ajudar conhecidos, como um advogado de uns 35 anos que percebi que está vindo com mais frequência. Ele disse que faz compras para os vizinhos. Antes, era uma vez por semana, e agora três, quatro. Em média, os mais fiéis frequentavam duas, três vezes por semana, e reduziram para uma. Vinham mais em família. Tenho visto mais gente sozinha. As compras ficaram maiores. O pessoal não quer pegar só vinho, cerveja — compra coisas essenciais, muito produto de limpeza. E tem muito pedido por aplicativos. No geral, estamos recebendo gorjetas maiores (o Santa Maria não cobra pelo serviço). Alguns clientes falam assim: ‘Sabemos que é uma época difícil, então vamos melhorar a caixinha’. Cheguei a ganhar até 150 reais de uma pessoa, mas, no fim do mês, diminuíram as gorjetas, porque tem menos clientes. Éramos em dezesseis manobristas, e o número continuou igual na quarentena.